Contagem Regressiva

Contagem Regressiva para 03/06/2023 - 11h00

Dias Horas Minutos Segundos
Ex limpador de cocheiras se qualifica e vai nos representar em Paris
Esporte
Publicado em 24/08/2023

JÁ É UM VENCEDOR: Ex-limpador de cocheiras recebe chance de ser atleta e se qualifica a Paris.

Renderson Oliveira, Mineiro de Itabirito, cavaleiro brasileiro, está de olho nos Jogos Olímpicos. E guarda na memória a primeira vez que esteve com João Victor Oliva. Ainda estava em idade escolar, mas a família já necessitava financeiramente do seu trabalho braçal.

Limpava 30 cocheiras de cavalos por dia, ocupando o mais baixo nível da hierarquia da cutelaria onde o pré-adolescente era o filho do patrão.

Um abismo separava os dois garotos, que, hoje homens formados, comemoram juntos estarem com índice para disputar os Jogos Olímpicos de Paris no adestramento. Ambos são atletas, funcionários do mesmo haras, parceiros de toda hora, desde o café da manhã nas mesmas xícaras sujas. Mas o caminho que os levou até ali não poderia ser mais distinto.

João Victor não sabia nem engatinhar quando foi à sua primeira Olimpíada. Filho da rainha Hortência, acompanhou a mãe na campanha da prata olímpica do basquete em Atlanta-1996. Renderson estreou em Olimpíadas vinte anos depois, no Rio, como tratador de cavalos.

Era o responsável pelo bem-estar de Xamã dos Pinhais, a grande estrela do plantel da Coudelaria Ilha Verde, haras do empresário Victor Oliva, o ex-"rei da noite", principal criador da raça Puro-Sangue Lusitano, e seu patrão.

Renderson nunca havia montado um cavalo até mudar-se para Araçoiaba da Serra, no interior de São Paulo, para junto da família paterna, e ser avisado de que, já com 16 anos, precisava começar a trabalhar. 

Havia uma vaga no Ilha Verde, para limpar cocheiras. Um trabalho pesado, mas um bom emprego, uma carteira que ficou assinada por 13 anos.

Era meados de 2008 e o principal cavaleiro do haras, Rogério Clementino, também um homem preto, filho de uma empregada doméstica, estava em Pequim, na China, para ser o primeiro negro a defender o Brasil no hipismo olímpico. O cavalo dele, porém, não passou na inspeção veterinária, Rogério não competiu e, para fins estatísticos, esse tabu ainda não foi quebrado. 

Foi graças a seu esforço além do serviço contratado que, depois de mais de dois anos limpando cocheira, Renderson foi promovido a tratador dos cavalos de Roger.

À medida que ficava mais tempo com os animais, foi também aprendendo a montar e começou a frequentar competições, sempre como tratador. A chance de competir demorou, mas veio.

Renderson, porém, não depende só de si para ir à Olimpíada. Como há limite de um atleta por país classificado individualmente, e João Victor sai muito na frente por já estar somando pontos desde o ano passado, o caminho mais curto é o Brasil conseguir a vaga por equipes pelo Pan de Santiago.

Comentários
Comentário enviado com sucesso!